Nos últimos anos, uma tendência comportamental inusitada vem ganhando espaço, em especial entre os jovens da Geração Z (ou Gen Z): o Bed Rotting. Sendo assim, o nome pode soar estranho, até um pouco alarmante, mas reflete com precisão a essência dessa moda, uma espécie de “apodrecimento na cama”, em tradução livre.
Ainda que para alguns pareça uma forma legítima de descanso ou autocuidado, esse fenômeno tem levantado preocupações entre profissionais da saúde mental, pais e educadores.
Logo, neste artigo, entenderemos o que é Bed Rotting, bem como explicaremos a conexão dessa tendência com a Geração Z. Em conjunto a isso, iremos listar os malefícios de tal fenômeno e também refletir sobre como combatê-lo. Por último, discutiremos se é possível que o mesmo se estenda para as gerações posteriores à Gen Z.
O que é Bed Rotting?
A rotina de muitas pessoas mudou drasticamente com a popularização do home office e do ensino remoto. Nesse contexto, surgiu um novo comportamento que, embora tenha uma aparência de conforto, pode esconder armadilhas prejudiciais.
Sendo assim, o Bed Rotting é, basicamente, passar o dia inteiro na cama, realizando todas as atividades possíveis em posição horizontal. Isso inclui trabalhar, estudar, fazer refeições, assistir a filmes e séries, navegar nas redes sociais e, muitas vezes, até mesmo não fazer absolutamente nada.
Viver na horizontal
Na prática, o Bed Rotting começa assim: a pessoa acorda, levanta-se brevemente para ir ao banheiro e preparar o café da manhã, e então retorna imediatamente para a cama. A partir daí, tudo acontece ali mesmo. Ou seja, não há deslocamento para uma mesa de trabalho, para o sofá ou para qualquer outro cômodo e o leito se torna o centro da vida cotidiana.
É importante frisar que essa prática é mais comum entre pessoas que trabalham ou estudam de forma remota, o que permite uma certa flexibilidade na rotina. A cama deixa de ser apenas um local de descanso para se transformar no ambiente principal de convivência consigo mesmo e, às vezes, até com os outros, por meio de videochamadas e redes sociais.
Uma falsa sensação de autocuidado
Em um mundo acelerado, onde o burnout é uma realidade comum, o Bed Rotting pode parecer uma resposta natural ao cansaço extremo. Desse modo, muitos adeptos afirmam que a prática ajuda a aliviar a ansiedade e a sensação de exaustão.
No entanto, especialistas alertam que o comportamento pode mascarar problemas mais sérios, como por exemplo a depressão, e que o suposto autocuidado pode estar mais próximo da fuga do que do real descanso.
Qual a conexão do Bed Rotting com a Geração Z?
A viralização do Bed Rotting tem um protagonista claro: a Gen Z. Jovens nascidos entre meados dos anos 1990 e o início dos anos 2010, essa geração cresceu imersa no contexto da tecnologia e no acesso facilitado à informação.
Sendo assim, o TikTok, em particular, desempenhou um papel fundamental na propagação dessa tendência. Na plataforma, há milhares de vídeos retratando rotinas em que a cama é o único cenário do dia.
O TikTok como catalisador do Bed Rotting
A rede social, conhecida por lançar modas e tendências comportamentais, transformou o Bed Rotting em algo glamouroso. Em outras palavras, vídeos esteticamente agradáveis mostram jovens cercados por travesseiros macios, luzes suaves, lanches, livros e dispositivos eletrônicos.
Com isso, a prática ganhou uma camada de romantização, sendo apresentada como uma forma válida (e até mesmo charmosa) de lidar com o esgotamento mental.
Reflexo de uma geração sobrecarregada
A Geração Z enfrenta inúmeros desafios, como por exemplo crises econômicas, mudanças climáticas, insegurança no mercado de trabalho e sobrecarga de informações. Dessa forma, não é de se estranhar que essa geração esteja constantemente em busca de alívio e desconexão.
O Bed Rotting aparece como uma tentativa de se desligar do caos externo, ainda que de maneira questionável. Assim, a cama torna-se um refúgio simbólico, onde é possível se “desligar” do mundo, mesmo que momentaneamente.
Malefícios do Bed Rotting
Apesar de parecer inofensiva e até reconfortante à primeira vista, a prática excessiva do Bed Rotting pode trazer sérias consequências à saúde física e mental. Segundo a terapeuta Kati Morton, que possui um canal no YouTube com mais de 1,5 milhão de inscritos, há sinais alarmantes que precisam ser observados quando alguém passa tempo demais na cama.
Sinais de depressão disfarçados
De acordo com Morton, um dos principais perigos do Bed Rotting é que ele pode ser um indicativo de depressão. O desejo de evitar atividades diárias e permanecer na cama o máximo possível é um sintoma comum da doença. Em vez de representar autocuidado, o comportamento pode refletir apatia, desmotivação e tristeza profunda.
Impactos físicos do Bed Rotting
Além dos aspectos mentais, o Bed Rotting prolongado pode afetar a saúde física. Em tal sentido, a falta de movimentação compromete a musculatura, causa dores nas costas, e aumenta o risco de problemas circulatórios, como coágulos sanguíneos. Paralelamente, a postura inadequada também contribui para uma má qualidade de sono, dificultando o descanso reparador.
Isolamento social e desconexão
Outro ponto crítico é o isolamento social que o Bed Rotting causa. Ao evitar sair da cama e participar das atividades cotidianas, a pessoa se afasta dos amigos, da família e de oportunidades de convivência.
Isso alimenta sentimentos de solidão e desconexão, agravando ainda mais o quadro emocional. Sendo assim, a longo prazo, pode-se criar um ciclo vicioso em que o indivíduo se sente cada vez mais isolado e, por isso mesmo, permanece na cama por mais tempo.

Como combater o Bed Rotting?
Combater o Bed Rotting não significa necessariamente abolir completamente os momentos de descanso na cama, mas sim encontrar um equilíbrio saudável entre o repouso e a atividade. Algumas estratégias podem ajudar a retomar uma rotina mais ativa e evitar os efeitos negativos dessa prática.
Estabeleça limites claros
Uma das primeiras ações para reduzir o Bed Rotting é criar uma separação entre os ambientes de descanso e de trabalho. Mesmo em um espaço pequeno, é possível delimitar áreas específicas para atividades distintas. Evite trabalhar, estudar ou comer na cama. Ou seja, use-a apenas para dormir ou relaxar no final do dia.
Crie uma rotina estruturada
Ter uma rotina diária estruturada ajuda a manter o foco e a produtividade. Dessa maneira, estabeleça horários para acordar, tomar café, trabalhar, se exercitar e descansar. Essa organização proporciona uma sensação de controle e propósito, combatendo a desmotivação que leva ao Bed Rotting.
Invista em atividades físicas e sociais
Atividades físicas regulares são excelentes no intuito de melhorar tanto o humor quanto a disposição. Caminhadas, alongamentos e até mesmo danças podem ser feitas sem a necessidade de sair de casa. Juntamente com isso, procure manter o contato com amigos e familiares, mesmo que virtualmente. Interações sociais contribuem para o bem-estar emocional.
Procure ajuda profissional
Se o comportamento persistir e for acompanhado por sentimentos de tristeza, ansiedade ou desesperança, é fundamental buscar ajuda psicológica. A terapia pode oferecer ferramentas para lidar com as emoções e ressignificar o modo como você se relaciona com o próprio descanso.
É possível que a tendência do Bed Rotting se estenda para as gerações posteriores?
Embora o Bed Rotting esteja amplamente associado à Geração Z, há indícios de que essa prática pode se espalhar para outras faixas etárias. Isso se deve à crescente adoção do trabalho remoto, à intensificação da vida digital e à busca por alternativas de descanso e fuga da realidade estressante.
A normalização do comportamento
O perigo maior reside na normalização do Bed Rotting como algo desejável. Quando práticas potencialmente nocivas ganham um verniz estético e são amplamente divulgadas nas redes sociais, tornam-se comportamentos aspiracionais. Logo, as gerações futuras, especialmente crianças e adolescentes, podem adotar essas práticas sem compreender seus riscos.
A importância da educação emocional
Para evitar que o Bed Rotting se torne um padrão intergeracional, é essencial investir em educação emocional desde cedo. Ensinar crianças e jovens a identificar emoções, lidar com o estresse e criar hábitos saudáveis pode prevenir a adoção de comportamentos autodestrutivos travestidos de autocuidado.
A responsabilidade das plataformas digitais
Plataformas como o TikTok também têm um papel importante nesse cenário. É preciso haver maior responsabilidade na curadoria de conteúdos que influenciam o comportamento dos usuários. Tendências como o Bed Rotting devem ser discutidas com senso crítico, e não apenas replicadas como modas passageiras.
Considerações finais
Diante de tudo isso, o Bed Rotting revela-se uma tendência complexa, que reflete o cansaço emocional e a busca por alívio em um mundo cada vez mais exigente. Embora seja compreensível o desejo de escapar da rotina estressante e se refugiar no conforto da cama, é necessário estar atento aos sinais que esse comportamento pode esconder.
Em conclusão, a cama deve ser um espaço de descanso, não um abrigo permanente contra os desafios da vida. Repensar hábitos, buscar equilíbrio e estar aberto ao diálogo são passos fundamentais para combater essa prática de forma consciente.
Se você ou alguém que conhece está enfrentando dificuldades para sair da cama e retomar uma rotina saudável, procure ajuda e comece hoje mesmo a entender os reais impactos do Bed Rotting. Sua saúde mental e física agradecem!