A CPI das bets tem revelado ao Brasil um universo ainda obscuro, repleto de riscos tecnológicos e esquemas escusos que colocam em xeque a integridade do mercado de apostas. Em tal sentido, com a explosão do interesse em apostas esportivas e jogos de azar online, a regulamentação brasileira de 2025 surgiu como uma tentativa de controlar um setor em expansão.
No entanto, enquanto casas legalizadas seguem critérios rígidos, plataformas clandestinas se aproveitam da tecnologia com o intuito de manipular resultados e enganar milhões de brasileiros. Dessa maneira, é nesse cenário que a investigação se debruça, tentando compreender como o uso da tecnologia, aliado à falta de fiscalização, tem permitido fraudes milionárias.
Logo, neste conteúdo, iremos explicar qual a tecnologia das apostas que está sendo foco da CPI das bets, como ela pode ser manipulada e também explorar o que motivou essa investigação. Juntamente com isso, pensaremos em possíveis consequências desse processo, bem como listaremos algumas lições a aprender com ele. Por fim, iremos refletir se há a possibilidade de mais ações ocorrerem com inspiração no mesmo.
Qual a tecnologia das apostas que está sendo foco da CPI das bets e como ela pode ser manipulada?
As apostas online dependem de uma complexa infraestrutura tecnológica. Ela vai desde geradores de números aleatórios (RNGs, na sigla em inglês) até sistemas de pagamentos digitais.
Ou seja, quando operadas de forma transparente, essas ferramentas garantem que o jogo seja justo, com odds (probabilidades) matematicamente calculadas para oferecer uma margem de lucro às plataformas. No entanto, ainda assim possíveis de serem vencidas pelo jogador.
Casas legalizadas x plataformas clandestinas
Com a regulamentação brasileira aprovada em 2025, passou a ser obrigatório que todas as operadoras de apostas online disponibilizassem informações claras sobre suas probabilidades, funcionamento de slots de cassino e métodos de segurança digital. Isso inclui auditorias independentes dos RNGs, exigência de políticas contra lavagem de dinheiro e verificação da identidade do jogador.
No entanto, as casas de apostas clandestinas, foco da CPI das bets, ignoram essas exigências. Como não passam por auditorias, elas podem manipular os algoritmos dos jogos de azar.
Isso significa que os slots, por exemplo, podem ser programados com o intuito de nunca oferecer retorno ao jogador, ou para alterar as chances de vitória dependendo do valor apostado. Vale ressaltar que essa manipulação não é visível ao usuário, mas produz um ambiente extremamente desvantajoso.
Transparência e controle inexistentes
Ao contrário das casas regulamentadas, onde é necessário registrar e disponibilizar cada aposta para fiscalização, as bets clandestinas não seguem protocolos de rastreabilidade.
Isso permite que operem com total opacidade, muitas vezes hospedadas fora do Brasil, em países com legislação permissiva. Portanto, mesmo que o site seja em português e o atendimento feito por brasileiros, a tecnologia usada é desenhada para impedir que o sistema jurídico nacional possa intervir de modo eficaz.
O que motivou a CPI das bets?
O que levou à criação da CPI das bets foi o crescimento alarmante das apostas ilegais e os prejuízos que elas vêm causando aos cidadãos brasileiros. Sob o disfarce de plataformas confiáveis, milhares de sites e perfis em redes sociais vendem a ideia de lucro rápido e fácil, mas na verdade escondem esquemas de fraude orquestrados por cambistas de bets.
Quem são os cambistas de bets?
Com inspiração na velha prática de cambismo em shows e partidas de futebol, os cambistas de apostas intermedeiam a relação entre o jogador e as casas ilegais. Normalmente, eles atuam em redes sociais, como por exemplo Instagram e WhatsApp, oferecendo bônus atraentes e promessas de prêmios fáceis. Em paralelo, alguns utilizam nomes parecidos com os de casas regularizadas, o que induz o usuário ao erro.
Tais cambistas recebem uma comissão por cada aposta intermediada. Para o apostador, principalmente jovens e menores de idade que não podem apostar legalmente, os cambistas surgem como facilitadores. Eles recebem os depósitos, em geral via PIX ou transferência bancária, e prometem validar os “bilhetes”. Mas o que se vê na prática são relatos constantes de golpes.
Golpes recorrentes e denúncias
Matérias jornalísticas e dados de plataformas como o Reclame Aqui mostram um padrão: após realizar o depósito, o apostador não consegue resgatar seus ganhos. Em alguns casos, exigem novos depósitos para liberar os valores, alegando “validação de bilhetes” ou “ativação de bônus”. Porém, mesmo após novos pagamentos, o dinheiro continua retido ou simplesmente desaparece.
Em uma pesquisa recente da Idwall com a Opinion Box, cerca de 18% dos apostadores brasileiros afirmaram já ter sido vítimas de fraudes em plataformas de apostas. Tal valor é algo que representa quase 10 milhões de pessoas.
Adicionalmente, em grupos monitorados por jornalistas, é comum ver denúncias contra as bets clandestinas promovidas por cambistas. Nesse contexto, tais conjuntos contam com relatos de prejuízos, extorsão e bloqueio de contas sem justificativa.
Menores de idade e viciados em jogo como alvos
A legislação brasileira proíbe apostas por menores de idade, atletas, árbitros e pessoas com dependência diagnosticada. Sendo assim, as casas regulamentadas precisam adotar filtros de verificação, com documentos e validações.
Já as clandestinas ignoram essas exigências. Em outras palavras, a pesquisa do Ministério da Justiça de São Paulo revelou que 10,5% dos adolescentes entrevistados apostaram nos últimos 12 meses, quase sempre em casas ilegais.
Isso cria um ambiente propício para o vício e para a manipulação emocional, já que os cambistas usam uma linguagem sedutora e até promessas de mentoria para “ficar rico apostando”.

Possíveis consequências futuras da CPI das bets
A CPI das bets pode ser um divisor de águas no setor. Em primeiro lugar, um dos desdobramentos esperados é o endurecimento das penas para quem opera ou promove apostas ilegais. Sendo assim, os cambistas podem passar a ser tratados como parte de uma rede de estelionato e não mais como meros intermediários.
Aperfeiçoamento da legislação
Um caminho natural após a CPI será a ampliação da fiscalização e a criação de um sistema nacional de monitoramento das plataformas. Em outras palavras, a Receita Federal, a Polícia Federal e o Ministério da Justiça podem ganhar mais poder para rastrear movimentações financeiras suspeitas, inclusive aquelas feitas via criptomoedas ou carteiras digitais.
Cooperação internacional
Como muitas dessas plataformas operam fora do país, o Brasil poderá estabelecer tratados com outras nações com o intuito de facilitar o bloqueio de sites ilegais e também a extradição de operadores. Dessa forma, o uso de tecnologia antifraude, como por exemplo blockchain para registrar apostas, também poderá ser exigido futuramente.
Lições a aprender com a CPI das bets
A principal lição da CPI das bets é que não basta legalizar. Em paralelo, é preciso fiscalizar e educar. Isso se deve ao fato de que muitos brasileiros ainda não sabem identificar uma plataforma legalizada, tampouco compreendem os riscos de apostar em locais que não são regulamentados.
Educação digital e financeira
Campanhas educativas, sobretudo com foco nos jovens, são urgentes. Deve-se combater a ilusão do lucro fácil em apostas com informação. É essencial que o Estado, junto a escolas e redes sociais, atue ativamente para mostrar os perigos do jogo ilegal.
Transparência obrigatória
O mercado de apostas precisa ser transparente com seus usuários. Em tal sentido, as plataformas devem exibir suas licenças de funcionamento, demonstrar como os algoritmos operam e oferecer suporte adequado. Logo, a exigência de relatórios de auditoria pública seria uma medida importante para aumentar a confiança.
Há a possibilidade de mais ações ocorrerem com inspiração na CPI das bets?
Sim, e isso já está em debate. Em outras palavras, setores como por exemplo os dos jogos online e até mesmo sites de rifas e sorteios estão na mira das autoridades. Desse modo, a CPI das bets pode se tornar um modelo de investigação e regulação para outros segmentos digitais que envolvem o dinheiro real das pessoas.
Ampliação das CPIs para outras áreas
A disseminação de rifas ilegais e pirâmides financeiras disfarçadas de apostas é uma tendência preocupante. Sendo assim, a CPI poderá inspirar novas frentes parlamentares focadas no combate ao crime digital e ao estelionato online.
Regulação da tecnologia emergente
Com o avanço da Inteligência Artificial, realidade aumentada e uso de bots em plataformas de apostas, é essencial que também se regulamentem novas tecnologias. Nesse sentido, é possível enquadrar os bots que induzem o usuário a apostar mais ou que simulam vitórias como ferramentas de manipulação emocional e fraude.
Em resumo, em um cenário onde a tecnologia pode ser aliada tanto da transparência das apostas quanto da manipulação delas, é urgente que se compreenda o verdadeiro papel da CPI das bets. Isso se deve ao fato de que ela não apenas investiga crimes, mas aponta para um novo modelo de regulação digital no Brasil.
Portanto, é fundamental que o debate avance, que os culpados sejam punidos e que o ambiente de apostas seja seguro para todos os cidadãos. Se você quer entender mais sobre os impactos dessa investigação e como ela pode afetar o futuro dos jogos online, continue acompanhando todas as novidades sobre a CPI das bets.