A oferta de R$500 para escanear íris é algo que tem chamado a atenção dos brasileiros e de todo mundo. Nesse sentido, a proposta vem da empresa Tools For Humanity (TFH), que é responsável pelo projeto que recebeu o nome de World ID. Mas como funciona esse processo? Ele é seguro? Quais os riscos envolvidos no mesmo?
Portanto, neste artigo, entenderemos como funciona o processo para escanear íris, bem como exploraremos algumas polêmicas em torno do mesmo. Juntamente com isso, iremos listar os cuidados que são necessários com ele e também refletir sobre lições a aprender com esse contexto.
Entenda como funciona o processo para escanear íris
Nas últimas semanas, diversas pessoas relataram, nas redes sociais, terem recebido dinheiro para escanear íris na cidade de São Paulo. Dessa forma, o projeto World ID, que a TFH criou, utiliza câmeras avançadas com o intuito de capturar essa biometria ocular. Conforme dito pela empresa, o objetivo é criar uma identidade digital que seja única e global.
Sendo assim, o processo acontece em um espaço físico que está equipado com máquinas de escaneamento. Tais máquinas são esferas metálicas presas ao chão por uma haste. Para realizar o processo, o usuário entra em uma sala, assiste um vídeo com instruções (que é mostrado pelas atendentes) em uma tela e tem a sua íris escaneada.
Após a verificação, a pessoa recebe 48 unidades de um criptoativo, que podem variar em preço, mas que hoje são equivalentes a cerca de R$500. Para participar, o usuário deve baixar um aplicativo, aceitar os termos de uso e, opcionalmente fornecer seu nome e seu telefone. Depois, o utilizador agenda um horário para ir até o local de coleta da biometria ocular.
Por fim, atualmente, São Paulo é a única cidade do Brasil onde o projeto da TFH está disponível. Segundo dados divulgados, mais de 500 mil pessoas já participaram do processo, pois, o grande atrativo, além da inovação tecnológica, é a recompensa financeira que a empresa oferece.

Polêmicas em torno do processo de escanear íris
A TFH afirma que não armazena dados biométricos dos usuários no processo de escanear íris. No entanto, a proposta do pagamento que ela realiza por isso levanta questionamentos sobre os reais interesses da empresa. Afinal, qual é o lucro obtido com esse processo?
Desse modo, para muitos especialistas, a biometria ocular pode se tornar uma ferramenta valiosa para a autenticação digital e para a segurança cibernética. Mas o que acontece se esses dados forem comprometidos ou usados de maneira indevida?
Recentemente, a Autoridade Nacional de Proteção de Dados (ANPD) determinou a suspensão do pagamento pelo processo de escanear íris no Brasil. Em tal sentido, o órgão regulador entende que a compensação financeira pode induzir os cidadãos a fornecerem informações sensíveis sem total compreensão das implicações.
Apesar disso, o escaneamento continua sendo realizado, com a recompensa paga por meio de criptomoedas. Por outro lado, a empresa alega estar em diálogo com a ANPD para esclarecer as questões tanto de privacidade quanto de segurança.
Conforme Kieran, um dos representantes da TFH, o objetivo é garantir que a operação esteja de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD). Ainda assim, especialistas alertam para os riscos da coleta de biometria ocular.
Ou seja, a falta de transparência sobre o uso de dados e os possíveis vazamentos de informações pessoais preocupam entidades de defesa do consumidor. Em conjunto a isso, há temores sobre a reutilização dessas informações por terceiros, especialmente em mercados não regulamentados.
Cuidados necessários com esse processo
Antes de realizar o processo de escanear íris e, consequentemente, ceder sua biometria em troca de dinheiro, é essencial tomar algumas precauções. Primeiramente, é importante ler os termos de uso do aplicativo e entender quais dados serão coletados. Isso se deve ao fato de que muitas pessoas aceitam os mesmos sem analisar as permissões concedidas.
Em segundo lugar, outro ponto relevante é verificar a reputação da empresa que é responsável pelo processo. Ainda que a TFH afirme não armazenar os dados escaneados, não há garantias de que essa política será mantida no futuro. Se acontecerem vazamentos, as consequências podem ser graves.
Juntamente com isso, o uso de criptomoedas como forma de pagamento é algo que traz desafios adicionais. Nesse sentido, diferente do dinheiro convencional, esses ativos digitais possuem grande volatilidade. Portanto, o valor que os usuários recebem pode sofrer variações e não garantir a mesma quantia na conversão em reais no futuro.
Por último, especialistas recomendam que qualquer pessoa que esteja interessada nesse tipo de iniciativa pesquise profundamente antes de participar do processo de escanear íris. O acesso a dados biométricos é um tema sensível e exige uma regulamentação rígida com o intuito de evitar abusos.
Lições a aprender com esse contexto
A crescente digitalização da identidade humana traz oportunidades e desafios. Ou seja, o caso da Tools for Humanity mostra que a tecnologia pode evoluir para novos formatos de identificação. No entanto, a privacidade dos indivíduos é algo que deve ser sempre uma prioridade nesse processo.
Primeiramente, a principal lição do episódio do processo de escanear íris é a importância de entender como se tratam os dados pessoais. Em outras palavras, mesmo com a promessa de segurança, os usuários devem questionar o destino das informações que eles forneceram à empresa. Logo, o avanço tecnológico exige tanto vigilância quanto regulamentação adequada.
Em segundo lugar, outro aprendizado relevante é a necessidade de avaliar os benefícios e os riscos antes de aderir a novas propostas tecnológicas. Dessa forma, o pagamento para o processo de escanear íris pode ser tentador, mas é fundamental considerar as implicações a longo prazo do mesmo.
Finalmente, fica evidente que os governos e também as entidades reguladoras precisam ser atuantes com o intuito de garantir que as empresas ajam de forma ética. Sendo assim, a segurança dos dados biométricos não pode ser comprometida em favor da inovação.
Em suma, o debate sobre o uso responsável da tecnologia de escanear íris deve continuar, e isso pode ser muito importante para a garantia da proteção dos direitos e dos dados dos cidadãos brasileiros.