Você sabia que a Nestlé utiliza inteligência artificial? Apesar de ser frequentemente destacada nos rankings de inovação aberta, a Nestlé Brasil, sob a orientação de Barbara Sapunar, Diretora Executiva de Transformação Digital e ESG, não vê o processo de inovação e digitalização da empresa como encerrado. Em vez disso, considera todas as iniciativas até o momento como o início de uma fase crucial para o futuro da organização.
No mês de dezembro, a Nestlé deu um passo importante nesse percurso ao lançar o edital “Inovação em Alimentos: Transformando o Futuro do Sistema Alimentar”, em parceria com o Senai. Este edital envolve um montante de R$6,25 milhões, sendo R$5 milhões provenientes da Nestlé e R$1,25 milhão do Senai. Ademais, nos últimos três anos, a empresa identificou mais de 3.000 startups, estabeleceu conexões com mais de mil delas, implementou quase 200 projetos pilotos e executou 60 projetos em escala.
Para Bárbara Sapunar, integrar o ecossistema de inovação à empresa é crucial diante de desafios complexos, como o colapso climático destacado pela COP28 em Dubai. Nesse contexto, ela ressalta a importância de uma abordagem sistêmica, buscando soluções rápidas e escaláveis que frequentemente surgem de parcerias externas, trazendo perspectivas imparciais e instigantes.
Em uma entrevista à Forbes, a executiva explicou os desafios, oportunidades e tecnologias que farão parte do mapa de inovação da Nestlé em 2024.
Como você avalia as recentes iniciativas de inovação da Nestlé Brasil?
Barbara Sapunar – O ano de 2023 foi crucial para avançarmos no aprimoramento e fortalecimento da área de Transformação de Negócios, que desempenha um papel central nas questões de ESG e inovação na Nestlé.
Projetos com inteligência artificial
Realizamos projetos que concretizaram essa interligação entre inovação, tendências e exigências comerciais, como o lançamento do primeiro livro de receitas desenvolvido com a colaboração do ChatGPT, nossa campanha que transformou os icônicos cards do chocolate Surpresa em tokens não fungíveis (NFTs) para apoiar a ONG SOS Mata Atlântica e a ferramenta Recomendador de Pedidos, que, utilizando inteligência artificial e dados, aperfeiçoou o sistema de distribuição de produtos para varejistas em todo o território nacional.
Como ocorre a interligação entre inovação e ESG?
Barbara – A abordagem integrada que concentra seus esforços na convergência de tecnologia e ESG possibilitou a execução de projetos com impacto positivo real. Estabelecemos uma parceria estratégica com a startup Food to Save, concentrada na redução do desperdício de alimentos.
Além disso, implementamos dois projetos pilotos que abordaram questões prioritárias como saneamento básico, tratamento de água e gestão da produção de cacau. Isto é, introduzimos no cenário brasileiro a plataforma global de inovação Unleashed Purina, concentrada em soluções para pet tech e pet care.
No Centro de Inovação e Tecnologia (CIT), em colaboração com startups e universidades de todo o Brasil, aceleramos pesquisas e desenvolvemos inovações no âmbito da Connected Factory e da Indústria 4.0, promovendo um ecossistema de colaboração tanto interna quanto externa nessa área.
Pode fornecer uma perspectiva sobre os desafios existentes nessas iniciativas, especialmente no que diz respeito à interação entre cultura e tecnologia?
Barbara – Nossas iniciativas buscam abordar desafios que abrangem desde a eficiência operacional até a exploração de novos modelos de negócios.
Na Nestlé, consideramos a inovação aberta como um elemento capacitador em diversas áreas. Uma vez identificado o tema a ser abordado, procuramos parceiros com tecnologias que sejam viáveis, eficientes e escaláveis em um curto período.
Portanto, a conexão com o ecossistema de inovação é fundamental. Enfrentamos desafios substanciais nas iniciativas de inovação, especialmente quando se trata da interação entre cultura e tecnologia.
A complexidade dessa relação reside na necessidade de alinhar os avanços tecnológicos com os valores e princípios fundamentais de nossa organização, ao mesmo tempo, em que buscamos gerar impactos positivos nos aspectos ambientais, sociais e de governança.
Em relação à tecnologia, quais tipos você destacaria como sendo utilizados na área neste ano?
Barbara – Nos últimos anos, as áreas de inovação e transformação digital da Nestlé têm explorado diversas tecnologias. Assim como Inteligência Artificial, Sistemas de Visão Computacional, Robôs Autônomos, Sensores IoT, Realidade Aumentada, entre outras. Nosso principal objetivo se preparar para as rápidas mudanças do mercado e explorar oportunidades de crescimento.
Uma evidência significativa desse comprometimento é o recente anúncio de investimento da empresa: R$6 bilhões a serem aplicados entre 2023 e o final de 2025. Esses recursos serão direcionados principalmente para o crescimento nos negócios, adoção de novas tecnologias na indústria, expansão das unidades fabris, transformação do portfólio e avanço da agenda de sustentabilidade.
Entre os projetos prioritários, destacam-se os investimentos em transformação digital e indústria 4.0, incorporando robôs e tecnologias que promovem maior eficiência e produtividade, além das adaptações de infraestrutura para incorporação de novas tecnologias.
Você poderia fornecer alguns exemplos práticos de aplicação?
Barbara – Além das tecnologias já mencionadas, gostaria de destacar algumas outras. No setor da Cadeia do Café, fazemos uso do Blockchain para garantir a rastreabilidade dos produtos. Isso permite que o consumidor, por meio da tecnologia, acompanhe todo o percurso do café, desde a plantação até a prateleira, incluindo informações sobre as pessoas envolvidas em cada etapa, proporcionando uma experiência mais transparente.
Inteligência artificial
Utilizamos a Inteligência Artificial para prever ações e antecipar decisões relacionadas a clientes, parceiros e força de vendas. Um exemplo concreto é o SISO (Sell In Sell Out). Uma ferramenta analítica que promove um relacionamento “ganha/ganha”. Ela funciona através da transparência de ações e informações compartilhadas com nossos principais clientes comerciais e dados da cadeia de abastecimento.
Além disso, implementamos também Robôs Autônomos e Colaborativos nas operações. Por fim, adotamos a manufatura aditiva, utilizando impressoras 3D internamente para produzir peças de reposição necessárias em nossas linhas de produção.
Em conclusão, quais são as suas expectativas para o setor em 2024?
Barbara – Decerto, continuaremos dedicados à promoção de um futuro alimentar regenerativo, integrando inovação e sustentabilidade. Mantemos nossa abordagem ambidestra, onde a inovação aberta continua aprimorando nossas operações; Assim, visando eficiência em todas as fases da cadeia alimentar e percebendo essa abordagem como uma oportunidade transformadora para o negócio. Afinal, essa é a essência de nossa área. Afinal, os desafios para moldar o futuro alimentar são significativos.
No setor agrícola, identificamos oportunidades em diversas produções, como cacau, café e leite. Assim, visando reduzir a pegada de carbono e incorporar tecnologias que promovam boas práticas agrícolas.
Quanto às energias renováveis, mesmo tendo alcançado 100% de nossa energia elétrica proveniente de fontes renováveis, continuamos em busca de aprimoramentos nesse pilar.
Inteligência artificial é o futuro
Com o passar do tempo, ver a inteligência artificial mais presente em todos os tipos de empresas será comum. Afinal, o potencial desta tecnologia é inegável.