Juliana Marins: Tecnologia poderia ter ajudado no resgate?

A trágica morte da brasileira Juliana Marins, de 26 anos, após cair de um penhasco no Monte Rinjani, na Indonésia, gerou uma onda de comoção nacional e internacional. Nesse sentido, ela desapareceu em uma trilha famosa por sua dificuldade e seus riscos.

Mesmo com o uso de drones e outros recursos tecnológicos nas buscas, os esforços não foram suficientes para salvá-la. Sendo assim, tal caso levanta uma importante questão: será que a tecnologia poderia ter ajudado de forma mais eficaz no resgate da brasileira?

Logo, neste texto, iremos explorar como a tecnologia poderia ter ajudado no resgate de Juliana Marins, bem como listar aspectos que tinham o potencial de evitar o acidente. Além disso, refletiremos se a retirada da brasileira poderia ter sido bem-sucedida e também elencaremos possíveis consequências desse contexto. Por fim, iremos discutir se o mesmo pode servir de exemplo para outros.

Como a tecnologia poderia ter ajudado no resgate de Juliana Marins?

Drones: uma ferramenta potente, mas mal utilizada

Vale ressaltar que utilizaram-se drones na tentativa de localizar Juliana Marins, inclusive modelos com câmera térmica (um recurso que pode detectar calor corporal, mesmo à distância). No entanto, houve limitação do uso dessa tecnologia por falhas operacionais e possíveis lacunas no treinamento das equipes. 

Ainda que o drone tenha identificado a posição de Juliana no sábado, os socorristas só conseguiram alcançá-la três dias depois. Isso evidencia uma falha na integração entre a detecção e a ação imediata.

Se houvesse uma operação com drones autônomos de longo alcance, capazes de voar por mais tempo e identificar anomalias de forma automática com inteligência artificial, o tempo de resposta poderia ter sido menor. Em conjunto a isso, sistemas de GPS em tempo real atrelados aos turistas poderiam permitir que as equipes responsáveis notassem qualquer desvio de rota imediatamente.

Falta de georreferenciamento e monitoramento em tempo real

Outro ponto crítico no caso de Juliana Marins foi a ausência de um sistema de georreferenciamento contínuo dos turistas. Trilhas de alto risco em montanhas como o Monte Rinjani deveriam exigir o uso de dispositivos de rastreamento, como por exemplo os localizadores por satélite (ex: SPOT ou Garmin inReach), que funcionam mesmo sem sinal de celular e permitem enviar alertas de emergência com a localização exata.

Em tal sentido, usam-se esses equipamentos em trilhas nos Alpes, Andes e outras regiões perigosas do mundo, sendo itens obrigatórios em muitos países. Dessa forma, o fato de que Juliana não possuir esse tipo de recurso demonstra uma falha de infraestrutura e protocolos de segurança na região onde ela trilhou.

Falta de comunicação estruturada

A comunicação entre os órgãos de resgate, autoridades locais e familiares também foi altamente problemática. Inicialmente, divulgou-se que Juliana havia recebido água e comida, o que mais tarde foi desmentido. Essa divergência de informações não apenas aumentou a angústia da família, como também pode ter causado confusão operacional nas equipes de busca.

Soluções tecnológicas como aplicativos de gerenciamento de crises, comunicação via satélite e coordenação centralizada por Inteligência Artificial são recursos já aplicados em áreas de resgate e gerenciamento de desastres. O uso de um centro de comando digital poderia ter organizado melhor as ações e evitado contradições.

Outros aspectos que podiam ter evitado o acidente de Juliana Marins

Falta de equipamento básico de segurança

Relatos de outros trilheiros indicam que o Monte Rinjani não exige que os turistas levem cobertores térmicos, casacos, luvas ou mesmo alimentação adequada. Juliana teria se sentido cansada no segundo dia e pediu para descansar, mas o guia seguiu com o grupo e só retornou minutos depois. Esse lapso pode ter sido crucial para a tragédia.

A exigência de equipamentos de segurança pessoal e a checagem do estado de saúde dos turistas são práticas comuns em regiões mais estruturadas. Sendo assim, trilhas que envolvem grande altitude e mudanças bruscas de temperatura deveriam ter protocolos rígidos nesse sentido. Equipamentos de rastreamento por radiofrequência e sensores biométricos vestíveis, por exemplo, poderiam detectar sinais de exaustão ou hipotermia.

Preparo dos guias locais em xeque

Muitos relatos apontam que os guias da região andam descalços, sem roupas térmicas e com pouca água ou comida. Tal conduta revela não apenas despreparo, mas também negligência quanto à segurança dos turistas. Especialistas alertam que em trilhas perigosas, o grupo deve andar sempre junto e sob supervisão visual contínua do guia.

A tragédia de Juliana Marins coloca em debate a necessidade de certificação internacional para guias que atuam em trilhas de risco. Juntamente com isso, apps de acompanhamento coletivo com geolocalização e monitoramento remoto da distância entre os integrantes do grupo poderiam ter alertado sobre o afastamento de Juliana em tempo real.

O resgate de Juliana Marins podia ter sido bem-sucedido?

Tempo perdido: o fator mais fatal

A maior crítica de especialistas ao resgate de Juliana Marins foi o tempo perdido entre sua localização por drone e a chegada das equipes de socorro. Ela foi vista ainda no sábado, mas só foi alcançada no quarto dia de operação. Nesse período, ficou mais de 24 horas desaparecida em um desfiladeiro, o que comprometeu sua sobrevivência.

Para isso, a justificativa das autoridades locais foi a falta de cordas suficientemente longas. Juliana estava a 300 metros da trilha, e as cordas que o resgate levou tinham apenas metade desse tamanho. Esse tipo de falha logística em uma região de risco é inadmissível. Tecnologias como cabos de resgate portáteis e drones de carga leve para entrega de suprimentos poderiam ter mudado esse desfecho.

Logística falha e desinformação

O percurso entre a base da montanha e o ponto de resgate levava cerca de seis horas. A demora para retornar com equipamentos adequados mostra uma falha de planejamento grave. Da mesma maneira, logo se desmentiu a informação inicial de que ela estava recebendo atendimento, o que evidenciou uma comunicação frágil.

Com um sistema de monitoramento por vídeo com transmissão ao vivo e relatórios automatizados para os familiares e autoridades brasileiras, a operação poderia ter sido mais transparente e eficiente. O uso de realidade aumentada por socorristas, treinamentos virtuais e mapas digitais também seriam valiosos nesse tipo de missão.

Possíveis consequências do acidente de Juliana Marins

Responsabilidade da empresa contratada

A empresa responsável pela organização da trilha tinha o dever de garantir a segurança de Juliana Marins. Especialistas destacam que ela deveria ter oferecido suporte emergencial imediato e acionado autoridades competentes assim que a jovem desapareceu.

Sendo assim, a falha no suporte pode resultar em processos judiciais e levar a mudanças regulatórias na Indonésia. Isso se deve ao fato de que o turismo de aventura, quando mal fiscalizado, se torna um campo fértil para tragédias. As operadoras poderiam um check-in automático em pontos de controle da trilha, que seria responsável por alertar a central se alguém não passar por determinada etapa no tempo esperado.

A distância entre países dificultou o socorro

O pai de Juliana tentou viajar para a Indonésia, mas foi impedido por problemas no espaço aéreo devido ao conflito entre Israel, EUA e Irã. Paralelamente, o governo brasileiro prestou apoio, mas sua capacidade de interferir nas operações locais era limitada.

Isso demonstra a importância de acordos internacionais para atuação conjunta em situações de resgate. Nesse sentido, é possível adaptar protocolos como os que se usam em missões humanitárias ou de refugiados para situações como essa. Além disso, sistemas de IA que integram dados meteorológicos, geográficos e logísticos poderiam antecipar as dificuldades e agilizar decisões.

O caso de Juliana Marins pode ter diversos desdobramentos.
O caso de Juliana Marins pode ter diversos desdobramentos. | Foto: DALL-E 3

O caso de Juliana Marins pode ficar de exemplo para outros contextos?

Um alerta para o turismo de aventura

A morte de Juliana Marins serve como alerta para o despreparo de muitos destinos turísticos que atraem aventureiros do mundo inteiro. Nesse sentido, a falta de fiscalização, treinamento de guias, equipamentos de segurança e tecnologia apropriada pode transformar uma viagem dos sonhos em pesadelo.

Em paralelo, é crucial rever a regulamentação internacional. Trilhas classificadas como de alto risco deveriam obedecer a normas mínimas de segurança, com uso obrigatório de tecnologia de rastreamento, drones, kits de emergência e suporte por rádio. Plataformas de turismo também deveriam ser responsabilizadas por omissões em sua curadoria de passeios.

Educação do turista e escolha consciente

É fundamental que turistas também se informem previamente sobre os riscos e exijam condições adequadas. Aplicativos que avaliam a segurança de roteiros, certificações internacionais de guias e simulações virtuais de trilhas podem ajudar na decisão.

Dessa forma, a história de Juliana Marins, apesar de dolorosa, pode abrir caminho para políticas mais rígidas de segurança e uso de tecnologia em atividades de ecoturismo e aventura. Cabe a todos (governos, empresas e viajantes) aprender com o ocorrido.

Resumindo, a tragédia de Juliana Marins mostra que, embora a tecnologia estivesse presente, ela foi subutilizada ou aplicada de forma ineficiente. Em um mundo cada vez mais conectado, não é admissível que erros logísticos, despreparo técnico e falhas de comunicação continuem custando vidas. 

Sendo assim, não só se pode, como se deve usar a tecnologia para salvar pessoas, desde que se empregue a mesma com responsabilidade e planejamento. Logo, que o caso de Juliana Marins não seja em vão.

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