Privatização das praias: tecnologia pode pressionar os governantes

A proposta de emenda à Constituição (PEC) que pode ocasionar a privatização das praias brasileiras tem gerado um intenso debate entre a população, bem como entre os ambientalistas e as autoridades.

No Brasil, as praias são tradicionalmente propriedade do Governo Federal, acessíveis a todos e protegidas por leis que garantem o livre acesso à população. Nesse sentido, a PEC visa alterar esse cenário, repassando o controle a estados e municípios. No entanto, esse processo pode permitir que trechos do litoral se tornem propriedade privada de empresas e indivíduos.

Logo, exploraremos os aspectos da PEC da privatização das praias e os malefícios potenciais de sua aprovação. Juntamente com isso, iremos ver como a tecnologia pode ser uma ferramenta crucial para pressionar os governantes na votação do projeto. Por fim, discutiremos as lições que pode-se aprender com essa controvérsia.

Entenda a PEC da privatização das praias

O conceito básico por trás de uma PEC é alterar a Constituição Nacional. Sendo assim, no caso da PEC 3/2022, ela propõe que os “terrenos de marinha” – áreas situadas dentro de uma faixa de 33 metros nas praias e nas margens de rios e lagoas, além dos contornos de ilhas com águas ligadas aos mares – deixem de ser propriedade da União e passem a ser bens de estados e municípios.

Esse repasse abre a possibilidade para que entidades privadas comprassem esses territórios e dessa maneira, aconteceria a privatização das praias. Além disso, seria extinta uma taxa cobrada na venda ou transferência de imóvel nesses espaços.

A justificativa que seus defensores apresentam tem base na insegurança jurídica que, em tese, essa demarcação causa. Desse modo, eles afirmam que alguém que comprou um imóvel a algumas ruas de distância do mar pode perder sua propriedade com o passar do tempo a partir do fato que essa faixa aumenta gradual e naturalmente.

Por outro lado, quem é contra a PEC diz que ela pode ser responsável pela privatização das praias, bem como por ameaçar a biodiversidade dessas áreas. Da mesma forma, os agentes contrários criticam a tramitação de uma proposta com grandes impactos sobre o meio ambiente ao mesmo tempo em que uma tragédia climática afeta o estado do Rio Grande do Sul.

Apesar desses aspectos, a questão da privatização das praias ser possibilitada pela PEC não é unanimidade entre os juristas. Alguns afirmam que a proposta permitirá esse processo e outros dizem que a Lei Federal nº 7.661/1988 evitará isso.

Por fim, a PEC precisa passar em votação na Comissão de Constituição de Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ) e depois no plenário do Senado. Ela se encontra em fase de consulta pública e debate inicial na CCJ.

Malefícios da PEC da privatização das praias

A privatização das praias pode trazer inúmeros malefícios, afetando tanto a população quanto o meio ambiente. Em primeiro lugar, há o risco de exclusão social, pois praias privatizadas poderiam cobrar taxas de acesso. 

Isso limitaria o uso delas a indivíduos que pudessem pagar esses valores. Nesse sentido, haveria uma contradição com o princípio constitucional de que as praias são bens públicos e de uso comum do povo.

Juntamente com isso, a privatização das praias pode levar à construção de empreendimentos que bloqueiem o acesso à costa. Dessa maneira, ocasionaria a restrição do uso público e afetaria comunidades locais que dependem dessas áreas para seu lazer e sustento.

Do ponto de vista ambiental, a privatização das praias pode intensificar a degradação dos ecossistemas costeiros. Do mesmo modo, a busca por lucro pode incentivar práticas prejudiciais ao meio ambiente, como por exemplo a construção de grandes resorts e a exploração de recursos naturais sem a devida consideração pelas consequências ecológicas.

Dentro dessas consequências, temos: destruição de habitats marinhos, poluição das águas e a perda da biodiversidade. Portanto, os malefícios potenciais dessa PEC destacam a necessidade de um debate amplo e aprofundado sobre suas implicações.

Caso ocorra a privatização das praias, uma consequência negativa possível é a elitização desses espaços.
Caso ocorra a privatização das praias, uma consequência negativa possível é a elitização desses espaços. | Foto: DALL-E 3

Como a tecnologia pode pressionar os governantes

A tecnologia pode desempenhar um papel fundamental na pressão sobre os governantes em relação à PEC da privatização das praias. Sendo assim, redes sociais, plataformas de petições online e ferramentas de georreferenciamento são alguns dos recursos que podem ser utilizados para mobilizar a população e chamar a atenção para a questão. 

As redes sociais, em particular, permitem que indivíduos e organizações compartilhem informações, organizem campanhas e sensibilizem um público amplo de maneira rápida e eficiente. 

Desse modo, movimentos como hashtags e vídeos virais podem amplificar a conscientização e gerar um engajamento significativo. Juntamente com isso, plataformas de petições online, como por exemplo Change.org e Avaaz, oferecem um meio direto para coletar assinaturas e demonstrar o apoio popular contra a PEC.

Essas petições podem ser usadas como prova concreta de oposição e apresentadas aos legisladores como um argumento persuasivo contra a privatização das praias do território brasileiro.

Por fim, ferramentas de georreferenciamento podem mapear e visualizar os impactos potenciais da privatização das praias. Isso fornecerá dados e evidências factíveis que podem ser usados em debates e audiências públicas. Assim, a tecnologia não apenas facilita a organização e a comunicação, mas também oferece mecanismos tangíveis para influenciar a tomada de decisões políticas.

Lições a serem aprendidas com esse caso

O debate sobre a privatização das praias oferece diversas lições valiosas. Primeiramente, destaca a importância da participação popular no processo legislativo. Logo, a mobilização social pode ser um fator decisivo para influenciar as decisões dos governantes e garantir que os interesses da população sejam considerados.

Esse caso também ilustra como a tecnologia pode ser uma ferramenta poderosa para a democracia. Ela permite uma maior transparência e mais engajamento cívico nesse processo.

Outra lição importante é a necessidade de um equilíbrio entre desenvolvimento econômico e conservação ambiental. Então, a privatização das praias pode oferecer benefícios para a economia, mas esses devem ser cuidadosamente ponderados contra os impactos sociais e ambientais. Desse modo, temos uma amostra que é importante que qualquer política pública considere a sustentabilidade a longo prazo e a proteção dos recursos naturais.

Por último, a controvérsia em torno da PEC reforça a importância de um debate informado e plural. Sendo assim, a inclusão de diferentes perspectivas é essencial para a formulação de políticas que sejam justas e igualitárias.

Em última análise, a tecnologia pode ser uma importante aliada no processo de votação da PEC da privatização das praias. Assim, o debate em torno desse tema não só aborda um tema específico, mas também oferece um reflexo das dinâmicas democráticas e da necessidade de uma governança inclusiva e responsável.

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