No universo das inovações tecnológicas que prometem transformar o agronegócio, uma startup brasileira chamou a atenção ao desenvolver o que seria o maior drone agrícola do mundo. Sendo assim, o projeto, batizado de Harpia P-71, despertou interesse em todo o setor agroindustrial por sua proposta ousada e por sua promessa de eficiência sem precedentes.
No entanto, apesar de sua magnitude e do entusiasmo inicial, a aeronave jamais decolou, nem literalmente, nem comercialmente. Dessa forma, a história do Harpia é marcada por ambição, desafios técnicos, entraves financeiros e lições importantes sobre os riscos de inovar em mercados complexos como o agronegócio brasileiro.
Então, neste artigo, iremos entender o contexto do maior drone agrícola do mundo criado por uma startup brasileira, bem como explicar os motivos pelos quais ele não decolou e quais foram as consequências disso para a empresa. Juntamente com isso, listaremos outros projetos da mesma e discutiremos se é possível que ela volte seu foco para o dispositivo no futuro. Ademais, iremos elencar algumas lições a aprender com o contexto.
Entenda o contexto do maior drone agrícola do mundo criado por uma startup brasileira
A jornada do Harpia P-71 teve início nas mãos de Gabriel Leal, um jovem empreendedor de apenas 24 anos, que fundou a Psyche Aerospace com a missão de modernizar a pulverização agrícola no Brasil.
Em tal sentido, a proposta era ousada: construir um drone híbrido, movido a etanol e eletricidade, com capacidade para carregar até 400 kg de defensivos agrícolas. O diferencial do equipamento, além da capacidade de carga, estava na autonomia e no alcance. Com ele, a startup pretendia atender até 500 mil hectares em operações de pulverização.
O drone prometia substituir aviões agrícolas em tarefas de pulverização com mais precisão, menor custo operacional e impacto ambiental reduzido. Em conjunto a isso, o uso do etanol (combustível renovável e abundante no Brasil) fazia parte da estratégia de sustentabilidade do projeto.
A apresentação do Harpia ao mercado
Durante o processo de desenvolvimento, a Psyche apresentou o Harpia P-71 em feiras e eventos importantes do setor, como a Agrishow, uma das maiores exposições de tecnologia agrícola do mundo. Nessas ocasiões, o projeto atraiu atenção de grandes personagens do agronegócio e gerou dezenas de cartas de intenção com empresas agrícolas interessadas no uso da tecnologia.
O entusiasmo do mercado era justificado: o drone representava uma disrupção nos moldes tradicionais da pulverização. Estimava-se que, se plenamente funcional, o Harpia reduziria drasticamente os custos operacionais e aumentaria a eficiência no controle de pragas e doenças nas lavouras.
No entanto, apesar do interesse e do potencial revolucionário, o drone nunca foi oficialmente testado em campo. A tecnologia, mesmo apresentada em feiras, não passou por todas as etapas de validação necessárias para entrar em operação comercial.
Por que o maior drone agrícola do mundo não decolou e quais foram as consequências para a startup brasileira?
Apesar do conceito inovador e da empolgação do setor, o projeto do Harpia P-71 enfrentou sérias dificuldades. Em outras palavras, a startup brasileira esbarrou em diversos obstáculos técnicos, desde a complexidade de integrar os sistemas de propulsão híbrida até os desafios de viabilidade e segurança para um drone de grande porte.
Vale ressaltar que a falta de testes práticos foi um dos principais gargalos. Muitas das cartas de intenção assinadas com empresas agrícolas estavam condicionadas a demonstrações reais de voo e aplicação de defensivos. Sem esses testes, a confiança do mercado esfriou.
Do ponto de vista financeiro, a situação tornou-se crítica no início do ano de 2024. A Psyche buscava uma nova rodada de investimentos de R$50 milhões, mas não conseguiu atrair o capital necessário. Sem o fluxo de caixa adequado, manter o desenvolvimento do Harpia, que consumia milhões de reais mensalmente, tornou-se inviável.
A decisão de encerrar a divisão de drones
A startup brasileira já havia captado R$19 milhões anteriormente e utilizava esses recursos para sustentar o projeto. Entretanto, com o insucesso da nova rodada de investimentos e a impossibilidade de conversão das cartas de intenção em contratos firmes, a empresa tomou a difícil decisão de encerrar a divisão de drones.
No dia 16 de maio de 2025, a Psyche anunciou o desligamento de 130 funcionários e o encerramento oficial da unidade dedicada ao Harpia, localizada em São José dos Campos (SP). Desde então, a empresa passou a operar com uma equipe enxuta de cerca de 25 a 30 colaboradores em Campinas (SP), redirecionando seu foco para outros produtos e soluções.
Outros projetos da startup brasileira
Depois do encerramento do projeto do Harpia, a Psyche Aerospace direcionou seus esforços para uma nova frente tecnológica: a plataforma Turing. Lançada oficialmente em janeiro de 2025, a ferramenta combina Inteligência Artificial com imagens de satélite para monitorar a saúde das lavouras.
Apresentada como um “ChatGPT do Agro”, a Turing oferece funcionalidades inovadoras, como identificação precoce de doenças em plantações, análise de produtividade por áreas específicas e recomendações personalizadas para o manejo agrícola.
Aposta na rentabilidade e escalabilidade
Diferente do Harpia, a plataforma Turing é mais leve do ponto de vista financeiro e mais fácil de escalar. A empresa anunciou que uma nova versão da plataforma será lançada nos próximos 30 dias, com acesso gratuito inicial e previsão de monetização por assinatura (o valor estimado é de US$19 por mês).
Com isso, a startup brasileira pretende atingir pequenos e médios produtores rurais, juntamente com empresas de consultoria agrícola, tornando a ferramenta mais acessível e, consequentemente, com maior potencial de adesão e rentabilidade. O novo produto também oferece à Psyche a oportunidade de demonstrar valor de forma mais rápida, algo que foi um ponto fraco no projeto do drone.

É possível que a startup brasileira volte seu foco para o maior drone agrícola do mundo no futuro?
Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, Gabriel Leal afirma que não abandonou o sonho do Harpia P-71. Segundo ele, o projeto ainda é tecnologicamente viável, mas precisa de uma estrutura de financiamento robusta para voltar à ativa. Dessa forma, a estimativa da empresa é de que seriam necessários entre US$30 milhões e US$50 milhões para retomar o desenvolvimento e realizar os testes em campo.
Leal afirmou em entrevistas recentes que a Psyche está em conversas com possíveis investidores, tanto no Brasil quanto no exterior. Nesse sentido, a ideia é realizar voos experimentais com o drone nos próximos meses e apresentar os resultados como uma nova tentativa de atrair capital.
Possíveis novos caminhos para o projeto
Uma das estratégias em estudo seria firmar parcerias com centros de pesquisa agrícola, universidades e órgãos reguladores, a fim de facilitar o processo de certificação e tornar o projeto mais atrativo para o mercado. A empresa também avalia readequar o modelo de negócio, reduzindo a carga útil do drone ou adaptando o sistema de propulsão para baratear os custos de produção.
Se houver sucesso nas próximas etapas, é possível que a startup retome a divisão de drones futuramente. Porém, dessa vez, com um plano mais sólido e testado, aprendendo com os erros do passado.
Lições a aprender com esse contexto da startup brasileira
A importância de validar antes de escalar
O caso da Psyche Aerospace deixa claro que a validação de tecnologia em campo é essencial antes de tentar escalar um produto. Embora o conceito do Harpia fosse atraente, a falta de testes práticos impediu a consolidação do drone como uma solução confiável.
Sendo assim, empresas que lidam com inovação disruptiva precisam equilibrar ousadia com realismo técnico. Demonstrar o funcionamento de um produto, mesmo em escala piloto, pode ser o diferencial para conquistar investimentos e fechar contratos.
A gestão de expectativas com investidores
Outro aprendizado importante diz respeito à relação com investidores. A startup captou recursos relevantes sem ter um protótipo funcional finalizado. Isso aumentou a pressão por resultados rápidos e dificultou a obtenção de novos aportes quando os problemas começaram a surgir. Gerenciar expectativas, ser transparente quanto aos riscos e criar um cronograma viável são pontos críticos para manter a confiança dos parceiros financeiros.
Flexibilidade e adaptação são essenciais
Por último, a capacidade da Psyche de se reinventar após o fim do Harpia demonstra a resiliência da empresa. A transição para soluções com base em IA mostra como uma startup brasileira pode encontrar novas oportunidades mesmo após um fracasso.
Em resumo, o lançamento da plataforma Turing e a aposta em um modelo de negócios escalável indicam que, mesmo diante de grandes perdas, é possível reestruturar o caminho e buscar novas formas de alcançar o sucesso.
Ou seja, uma startup brasileira como a Psyche mostra que inovar é arriscado, mas também necessário. A criação do maior drone agrícola do mundo pode não ter decolado, mas abriu espaço para novas possibilidades tecnológicas no agro. Se quiser continuar acompanhando as tendências e entender como a inovação pode transformar o setor, fique atento às novidades e inspire-se com a jornada dessa startup brasileira.
Quer saber mais sobre os desafios e soluções tecnológicas no agronegócio brasileiro? Acompanhe os próximos passos dessa startup brasileira e veja como a inovação continua moldando o futuro do campo.