Estudo com inteligência artificial aponta que digitais não são únicas

As impressões digitais são marcas deixadas pelos dedos nas superfícies que tocamos. Elas são formadas por sulcos e cristas que criam padrões únicos e individuais. Esses padrões são usados para identificar pessoas e verificar sua autenticidade em diversos contextos, como segurança, justiça, saúde, entre outros. A ciência forense considera as impressões digitais como provas inconfundíveis e irrefutáveis, pois acredita-se que elas sejam exclusivas de cada pessoa e de cada dedo. No entanto, um estudo com inteligência artificial aponta algo diferente.

Isto é, um estudo recente publicado na revista Science Advances desafiou essa ideia, ao usar a inteligência artificial (IA) para analisar 60 mil impressões digitais e descobrir que elas não são todas únicas, mesmo entre diferentes dedos da mesma pessoa. Esse estudo questiona a validade das impressões digitais como provas individuais e inconfundíveis, e pode ter implicações para a segurança, a identificação e a investigação criminal.

O que é inteligência artificial e para que serve?

Em suma, a inteligência artificial é um ramo da ciência da computação que busca criar máquinas e sistemas capazes de realizar tarefas que normalmente exigem inteligência humana, como aprender, raciocinar, resolver problemas, tomar decisões, entre outras. A IA serve para diversas finalidades, assim como:

  • Processar e analisar grandes volumes de dados, de forma rápida e eficiente;
  • Reconhecer e interpretar imagens, textos, áudios e vídeos;
  • Gerar e otimizar conteúdos, como textos, músicas, artes, etc.;
  • Simular e modelar cenários complexos e dinâmicos;
  • Auxiliar e automatizar atividades humanas, como educação, saúde, transporte, entretenimento, etc.

A inteligência artificial se divide em diferentes tipos, de acordo com o grau de complexidade e autonomia dos sistemas. Alguns exemplos são:

  • Inteligência artificial fraca ou estreita: é aquela que realiza tarefas específicas e bem definidas, seguindo regras e algoritmos pré-estabelecidos. É o tipo mais comum e presente na atualidade, como os assistentes virtuais, os sistemas de reconhecimento facial, os jogos de xadrez, etc.
  • Inteligência artificial forte ou geral: é aquela que seria capaz de realizar qualquer tarefa que um humano pode fazer, com o mesmo nível de inteligência e compreensão. É o tipo mais desafiador e controverso, pois envolve questões éticas, filosóficas e existenciais. Ainda não existe na realidade, mas é objeto de especulação e ficção científica.
  • Inteligência artificial super: é aquela que superaria a inteligência humana em todos os aspectos, podendo criar e modificar seus próprios objetivos, conhecimentos e habilidades. É o tipo mais extremo e perigoso, pois poderia representar uma ameaça à humanidade e ao planeta. Também não existe na realidade, mas é tema de debate e alerta entre cientistas e pensadores. Aliás, empresas como Microsoft e OpenAI estão trabalhando para desenvolver uma Super IA.

Inteligência artificial no estudo das impressões digitais

O estudo que apontou que as impressões digitais não são únicas é uma realização da equipe de engenheiros da Universidade Columbia, em Nova Iorque, liderada pelo professor Changxi Zheng. Eles usaram um modelo de inteligência artificial chamado rede contrastiva profunda, que, geralmente, realiza tarefas como reconhecimento facial, verificação de voz, recuperação de informação, entre outras.

Uma rede contrastiva profunda é um tipo de rede neural artificial que usa uma função de perda contrastiva para aprender a distinguir entre diferentes entradas, como imagens, textos ou áudios. Essa função de perda mede a similaridade entre as entradas e incentiva a rede a produzir representações que sejam semelhantes para entradas da mesma classe e diferentes para entradas de classes distintas.

No caso do estudo das impressões digitais, as entradas foram imagens de 60 mil impressões digitais de 5.400 pessoas, coletadas de bancos de dados públicos. As classes acabaram definidas pelos dedos das pessoas, ou seja, cada dedo pertence a uma classe diferente. A rede contrastiva profunda recebeu treinamento para aprender a diferenciar as impressões digitais de diferentes dedos, mas também para encontrar similaridades entre as impressões digitais de um mesmo dedo.

Os resultados do estudo mostraram que a rede contrastiva profunda foi capaz de reconhecer padrões semelhantes entre as impressões digitais de um mesmo dedo, mesmo quando elas eram de pessoas diferentes. Esses padrões foram chamados de “impressões digitais intra-pessoais”. A precisão do sistema atingiu o pico de 77%, questionando a premissa da singularidade de cada impressão digital.

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Imagem: DALL-E 3.

Qual o impacto dessa descoberta na investigação criminal?

Essa descoberta pode ter impacto na investigação criminal, pois pode questionar a validade das impressões digitais como provas individuais e inconfundíveis. Além disso, pode exigir novos métodos e critérios para analisar e comparar as impressões digitais encontradas nas cenas de crime. Segundo alguns especialistas, as impressões digitais são importantes, mas o DNA foi um marco para a ciência forense. Afinal, ele permite uma identificação mais precisa e confiável dos suspeitos. No entanto, a coleta e a análise do DNA também apresentam desafios e limitações, como a preservação e o isolamento do material genético, a contaminação e a falsificação de amostras, e a ética e a privacidade dos dados.

Portanto, é necessário um equilíbrio entre as diferentes fontes de evidência, bem como uma avaliação crítica e rigorosa das mesmas, para garantir a justiça e a verdade nos processos criminais. A inteligência artificial surge como uma aliada nesse sentido, pois pode auxiliar na coleta, no processamento e na interpretação dos dados, mas também representa uma fonte de erro, viés e manipulação, dependendo modo de uso

Em última análise…

A princípio, as impressões digitais são marcas únicas e individuais que nos identificam e nos diferenciam dos demais. Essa é uma crença que se consolidou na sociedade e na ciência. Mas que acabou desafiada por um estudo recente que usou a IA para analisar 60 mil impressões digitais. Assim, o estudo descobriu que elas não são todas únicas, mesmo entre diferentes dedos da mesma pessoa. Essa descoberta pode ter implicações para a segurança, a identificação e a investigação criminal, pois pode questionar a validade das impressões digitais como provas inconfundíveis. Além disso, pode exigir novos métodos e critérios para analisar e comparar as impressões digitais, bem como outras fontes de evidência, como o DNA. A inteligência artificial pode ser uma ferramenta útil para auxiliar nessa tarefa. Porém, também representa uma fonte de problemas, caso falte ética e consciência em seu uso.

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