Nos últimos anos, o avanço da Inteligência Artificial tem transformado profundamente o mercado de trabalho. Em tal sentido, um dos fenômenos que são mais controversos e surpreendentes dessa transformação é a presença crescente de pessoas criadas por IA ocupando vagas de trabalho remoto.
Sendo assim, com identidades completamente fabricadas, experiências profissionais falsas e rostos gerados por algoritmos, essas figuras digitais estão se infiltrando em companhias de todos os setores, especialmente nos Estados Unidos. A situação é tão grave que levou até o Departamento de Justiça estadunidense a agir.
Então, neste conteúdo, iremos entender como as pessoas criadas por IA estão conseguindo empregos remotos, bem como listar os riscos envolvidos nesse contexto. Juntamente com isso, elencaremos outros usos possíveis para essas gerações da Inteligência Artificial e também discutiremos se a quantidade delas deve crescer no futuro. Ademais, iremos refletir como equilibrar os benefícios e os problemas desses indivíduos artificiais.
Entenda como as pessoas criadas por IA estão conseguindo empregos à distância
As pessoas criadas por IA estão longe de ser meras curiosidades tecnológicas. Por outro lado, elas são resultado de um ecossistema sofisticado que envolve algoritmos de geração de imagem (como por exemplo GANs), processamento de linguagem natural e automação de respostas em entrevistas.
Devido a isso, as empresas dos EUA têm recebido candidaturas de indivíduos que, na realidade, não existem. Em contrapartida, são criações digitais completas, com perfis de LinkedIn bem estruturados, portfólios falsificados e até mesmo entrevistas por vídeo que usam deepfakes.
Um relatório recente da CNBC trouxe à tona depoimentos de companhias nos setores de cibersegurança e criptomoedas que foram vítimas desse fenômeno. Os casos mais comuns envolvem indivíduos fingindo ser profissionais de tecnologia, apresentando credenciais falsas, documentos forjados e, em alguns casos, até alterando visualmente seus rostos com o intuito de passar por entrevistas por vídeo como se fossem outra pessoa.
Infiltração profissional e segurança nacional
O problema vai além de simples fraudes trabalhistas. Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, mais de 300 empresas foram enganadas e contrataram impostores ligados à Coreia do Norte.
A partir disso, o dinheiro obtido com esses salários foi, supostamente, utilizado para financiar o programa de armamento do país asiático. Para enganar os empregadores, os falsários utilizavam identidades americanas roubadas, VPNs para mascarar a localização e, muitas vezes, contavam com a ajuda de cidadãos estadunidenses que eram cúmplices.
Dessa maneira, as investigações revelam uma rede de milhares de trabalhadores de tecnologia que são vinculados à Coreia do Norte. Em conjunto à Coreia, grupos criminosos em países como por exemplo Rússia, China, Malásia e Coreia do Sul também passaram a explorar esse novo “setor”, que foi recebeu o nome informal de “indústria dos empregados fakes”.
Os riscos desse contexto das pessoas criadas por IA
Falta de conscientização entre os recrutadores
Apesar da crescente onda de fraudes, muitos profissionais de Recursos Humanos ainda não estão preparados para identificar pessoas geradas por Inteligência Artificial. Isso ocorre porque não se projetaram os sistemas tradicionais de recrutamento para lidar com esse tipo de falsificação. Com currículos bem elaborados, entrevistas convincentes e presença digital robusta, esses impostores passam despercebidos facilmente.
Ben Sesser, CEO da plataforma BrightHire, que tem especialização em recrutamento, destaca que o elo mais frágil na segurança cibernética sempre será o fator humano. Isso inclui o processo de contratação, que muitas vezes é conduzido com base na empatia, confiança e julgamentos subjetivos.
“O processo de contratação é inerentemente humano, com muitas pessoas envolvidas. Isso se tornou um ponto fraco que estão tentando explorar”, comentou o CEO em resposta à uma pergunta.
Acesso a informações sensíveis
Ao contratar pessoas falsas, as empresas colocam em risco dados sensíveis de clientes, estratégias comerciais e até mesmo de sistemas internos críticos. Ou seja, em empresas de tecnologia, por exemplo, esses impostores podem ter acesso a repositórios de código-fonte, credenciais de sistemas e dados confidenciais de usuários.
Roger Grimes, que é consultor de cibersegurança, relatou alguns casos em que empresas descobriram a farsa somente após meses de trabalho. Paralelamente, algo curioso é que vários desses falsários entregavam resultados que são acima da média. Ainda assim, a permanência dessas pessoas criadas por IA representa um risco inaceitável.
Outros usos possíveis para as pessoas criadas por IA
Aplicações em áreas éticas e seguras
Embora haja riscos envolvidos, pessoas criadas por Inteligência Artificial também podem ser utilizadas de forma legítima e inovadora. No setor de entretenimento, por exemplo, avatares gerados por Inteligência Artificial já são usados como influenciadores digitais, apresentadores de notícias e até mesmo personagens em campanhas publicitárias.
Adicionalmente, no atendimento ao cliente, avatares com aparência e voz humanas podem interagir com usuários de modo natural, o que aumenta tanto a eficiência quanto a disponibilidade do suporte. Já na educação, essas figuras podem atuar como tutores digitais, interagindo com alunos em tempo real, com personalização e empatia simulada.
Auxílio em testes e simulações
Outra aplicação interessante é o uso de pessoas geradas por IA para testar sistemas de reconhecimento facial, autenticação biométrica e algoritmos de detecção de fraudes. Tais testes ajudam a fortalecer a segurança de plataformas digitais e melhorar a precisão de sistemas que são sensíveis.
Juntamente com isso, empresas de marketing digital têm utilizado figuras geradas por Inteligência Artificial no intuito de testar campanhas publicitárias em diferentes contextos culturais. Elas são responsáveis por avaliar as reações do público a partir de simulações computacionais antes do negócio realizar o lançamento de ações reais.

O número de pessoas criadas por IA deve crescer no futuro?
A tendência é alarmante. De acordo com a consultoria Gartner, até o ano de 2028, cerca de 25% das candidaturas a empregos poderão ser de pessoas criadas por IA. Isso indica um crescimento exponencial desse tipo de prática. É válido ressaltar que a facilidade de acesso a ferramentas de IA impulsiona esse contexto, além da demanda por empregos remotos.
Sendo assim, com o crescimento do home office e da terceirização global, barreiras tradicionais como por exemplo entrevistas presenciais, exigências locais e validação presencial de documentos se tornam obsoletas. Esse cenário também é algo que favorece a infiltração de impostores.
Expansão da indústria criminosa
O baixo risco de detecção, combinado com a alta rentabilidade de cargos remotos bem remunerados, tornou esse tipo de fraude um “negócio” que é atraente para grupos organizados. Já existem relatos de marketplaces clandestinos oferecendo identidades falsas completas, que contam com documentos escaneados, perfis sociais automatizados e até históricos de trabalho simulados com feedbacks positivos falsos.
Portanto, a expectativa é que esse tipo de atuação se torne mais frequente e mais difícil de detectar com o tempo. Isso deve ocorrer principalmente se não houver uma resposta que seja coordenada entre empresas, governos e plataformas tecnológicas.
Como equilibrar benefícios e problemas das pessoas criadas por IA?
Reforço de políticas de verificação
Para reduzir os riscos, os especialistas sugerem que as empresas adotem verificações mais robustas durante o processo de contratação. Nesse sentido, isso inclui a realização de entrevistas presenciais (quando possível), a verificação de identidade com reconhecimento facial e a checagem rigorosa de referências e documentos.
Em adição, algumas tecnologias também podem ser aliadas: ferramentas que detectam deepfakes, validadores de autenticidade de documentos e plataformas de background check com Inteligência Artificial são cada vez mais essenciais.
Educação dos profissionais de RH
Em conjunto à tecnologia, é crucial investir na formação dos recrutadores. Ou seja, eles devem estar preparados para identificar sinais de alerta, como por exemplo inconsistências no histórico profissional, respostas evasivas durante entrevistas e padrões linguísticos robotizados.
Paralelamente, campanhas de conscientização e protocolos padronizados de verificação podem ser responsáveis por ajudar a reduzir significativamente os casos de contratação de pessoas falsas.
Consideração ética e uso positivo
Por fim, é importante que se discuta os limites éticos da utilização de pessoas criadas por IA. Quando usadas com transparência e em contextos não-fraudulentos, essas tecnologias podem trazer inovação e produtividade. No entanto, o uso para burlar sistemas, roubar dados ou obter vantagens indevidas é claramente danoso e precisa ser combatido com rigor.
Considerações finais
A presença de pessoas criadas por IA no mercado de trabalho remoto é um fenômeno real, complexo e crescente. Enquanto se utilizam algumas dessas entidades digitais de maneira ética e inovadora, muitas estão sendo empregadas em fraudes sofisticadas.
Tal contexto compromete empresas e até a segurança nacional. Sendo assim, a tendência é que esse cenário se intensifique nos próximos anos, exigindo respostas firmes, tanto no campo da tecnologia quanto na gestão de talentos.
Concluindo, empresas, governos e profissionais precisam se unir para compreender melhor esse novo panorama e estabelecer barreiras eficazes contra a infiltração de identidades falsas. O futuro do trabalho, cada vez mais híbrido e remoto, exigirá atenção redobrada às pessoas com quem se interage — sejam elas reais ou criadas por algoritmos.
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